domingo, 6 de novembro de 2011

Editado Livro sobre Carlos Paião

Já está à venda o livro "Intervalo – Biografia de Carlos Paião", de Nuno Gonçalo da Paula (ISBN 978 972 780 323 1).

Depois da publicação da biografia do compositor Nóbrega e Sousa, Nuno Gonçalo da Paula prossegue as suas investigações no campo da música portuguesa contemporânea com a biografia do cantor e compositor Carlos Paião, falecido com apenas 30 anos, vítima de um acidente de viação. Nascido a 1 de Novembro de 1957, em Coimbra, Carlos Paião viveu a infância em Ílhavo, onde escreveu, aos oito anos, a primeira quadra e, um ano volvido, a primeira composição. Em Lisboa, tornou-se um médico apaixonado pela música. As suas letras forma cantadas por artistas consagrados, como Amália Rodrigues, Fafá de Belém, Nicolau Breyner, Raul Solnado, Herman José, Florbela Queiroz, Joel Branco, ou Lenita Gentil. Vencedor de vários prémios, destaca-se o Festival RTP da Canção de 1981, com o inesquecível Play-Back. O criador de O senhor extraterrestre e Eles foram tão longe editou treze singles e dois LPs, entre 1981 e 1988. A obra inclui numerosos testemunhos, entre os quais os dos pais, esposa, António Sala, Eládio Clímaco, Florbela Queiroz, Herman José, Joaquim Letria, Maria Barroso Soares, Ramon Galarza e o já falecido Raul Solnado.

Dados bibliográficos de Carlos Paião.

1957 — Nasce, a 1 de Novembro, em Coimbra.

1962 — Inicia lições de acordeão.

1964 — A família de Paião muda-se para Lisboa.

1978 — Apresenta-se a cantar e a tocar piano na RDP-Centro.

Classifica-se em 1º lugar no Festival da Canção de Ílhavo com o tema «Canto de Guerra», vencendo ainda o prémio de interpretação e colocando uma outra canção sua em 4º lugar. A vitória leva-o a enviar uma cassete com material à editora Valentim de Carvalho, que o contrata, por insistência de Mário Martins, um dos A&R da editora, e após outros responsáveis não terem mostrado interesse. Por essa altura, já tinha mais de 200 canções escritas. Mário Martins e Henrique Amoroso, responsáveis pelo departamento de publishing da editora, começam a encomendar-lhe regularmente composições para outros artistas.

1980 Mar. (7) — Participa no Festival RTP da Canção interpretando «Amigos, Eu Voltei», mas fica-se por uma das eliminatórias, não conseguindo apuramento para a final.

Gravada por Herman José, a sua composição «Canção do Beijinho» torna-se num enorme sucesso comercial e popular. O álbum do mesmo nome inclui ainda dois outros temas de Paião, «Eu Não Sei de Ti» e «Não Descalces os Sapatos».

Jun. — «A Gente Cresce, Cresce...», gravada pelo actor Joel Branco, torna-se num grande sucesso público. É o primeiro de quatro singles gravados pelo actor com canções de Carlos Paião; os restantes são «É tão Giro» (1981), «Ora Toma!» (1982) e «Nós Havemos de Cantar (1983).

1981 Jan. — Submete três canções ao júri de selecção do Festival RTP da Canção: «Souvenir de Portugal», «Eu não Sou Poeta» e «Play-back»; dado que o júri apenas pode escolher uma canção para cada intérprete, é «Playback» a escolhida.

Fev. — É editado o primeiro single de Carlos Paião em nome próprio: «Souvenir de Portugal/Eu não Sou Poeta», que vende para cima de 50 mil exemplares. Ambas as canções haviam sido rejeitadas pelo júri da RTP.

Mar. (7) — «Playback» vence o Festival RTP da Canção, sendo apurada para participar no Festival da Canção, a realizar em Dublin. A vitória não é contudo isenta de polémicas: o semanário TV Top afirma que a canção partiu em vantagem devido à inserção fugaz de uma legenda com o título alegadamente subliminar, imediatamente antes da sua interpretação. Contudo, a polémica é desfeita por declarações da RTP explicando que a votação do júri nacional já tinha sido feita antes da transmissão televisiva do festival, pelo que a legenda não tivera influência na vitória. Em todo o caso, a legenda, cujo tempo de inserção era demasiado longo para poder ser considerada como imagem sublimiinar, estava programada para surgir antes de todas as canções como «solução de recurso» caso houvesse algum atraso na emissão, surgindo apenas antes do tema de Carlos Paião devido a um atraso na retirada de palco do piano do concorrente anterior, José Cid. A canção é enviada para a Eurovisão num teledisco gravado para o programa «Eu Show Nico», dado que a RTP, por ter realizado o festival no último dia possível, segundo o regulamento da Eurovisão, não havia tido tempo para filmar um teledisco de promoção.

César de Oliveira convida-o para musicar uma nova revista, "Escabeche", para o teatro ABC. Em entrevista ao Diário de Notícias, anuncia igualmente ter composto uma canção para Raul Solnado, igualmente artista da Valentim de Carvalho, intitulada «Tó Kratintas», mas o tema nunca é editado.

Abr. (4) — «Piayback» fica em 19º e penúltimo lugar no Festival da Canção, realizado em Dublin, com oito pontos atribuídos pelo júri alemão e um pelo júri grego, numa das posições mais baixas jamais obtidas pela representação portuguesa. O single, contudo, atinge rapidamente em Portugal o Disco de Ouro, acabando por vender mais de 80 mil cópias. No lado B, está a versão inglesa de «Playback», que vem substituir «Pó de Arroz», tema julgado demasiado bom para ser relegado para um lado B. Entretanto, a versão inglesa de «Playback», editada em 13 países diferentes, vende 40 mil cópias na Alemanha.

Jul. — Concorre ao I (e único) Festival da Canção da Rádio Comercial com o tema «Viver Viver» interpretado por Carlos Quintas, mas que não é apurado pelo júri do concurso. Carlos Quintas voltará ainda a gravar Paião em 1982 com o single «Vamos Dançar na Rua».

Nov. — Publica em single «Pó de Arroz», uma balada originalmente gravada para inclusão no lado B de «Playback», e «Ga-Gago».

1982 Fev. — Amália edita «O Senhor Extra-Terrestre», um maxi-single com duas canções originais de Carlos Paião (a outra é «O Amigo Brasileiro»). Mário Martins, da Valentim de Carvalho, levara à cantora algumas das canções que Paião enviara à editora, numa manobra desenhada para dar credibilidade ao compositor, e Amália escolheu dessas maquetas 37 canções, das quais apenas acabaria por gravar estas duas.

Mar. (6) — Regressa ao Festival RTP da Canção como autor de «Trocas e Baldrocas», interpretada por Cândida Branca Flor, que fica classificada em 2° lugar.

«A Gente Cresce, Cresce...» é gravada em finlandês por Kirka com o título «Satainen Paiva».

Abr. (2) — Entra em estúdio para registar o seu primeiro, álbum.

Jun. — E publicado o single «Marcha do Pião-das-Nicas», uma marcha para a época dos Santos Populares, com «Telefonia (Nas Ondas do Ar» no lado B.

Nov. — É publicado o seu primeiro álbum, «Algarismos», cujas dez canções, todas inéditas, são dedicadas a cada um dos dez algarismos matemáticos (0 a 9). Apesar da boa recepção da crítica, o disco não obtém o sucesso comercial esperado, e Carlos Paião acabará por só voltar a gravar um 33 rpm em 1988.

1983 Mar. (7) — Carlos Paião apresenta-se no Festival RTP da Canção, interpretando em dueto com Cândida Branca Flor «Vinho do Porto, Vinho de Portugal», que fica classificada em 4º lugar. O tema será o pretexto para uma compilação conjunta, intitulada «Cantigas da Telefonia», que reúne seis temas de Paião e seis de Cândida Branca Flor.

Jul. — Estreia na RTP-1 «O Foguete», um programa de variedades criado e apresentado a três por Carlos Paião, António Sala e Luís Arriaga. Misto de comédia e programa musical no cenário de um comboio em viagem entre Lisboa e o Porto, os nove programas da série são mal recebidos pela crítica e pelo público (alguns media apontam que a fraca qualidade do programa terá prejudicado a imagem pública do cantor). Em entrevistas, Paião reconhece as deficiências da série, devidas à inexperiência dos três autores/actores/apresentadores e às insuficiências da RTP, agravados por a produção ter tido lugar durante as férias de Verão, mas sublinha a popularidade do programa junto do público da província e das crianças. O tema-título «O Foguete» será, ainda assim, editado em single mais perto do final do ano.

Nov. — Completa o curso de Medicina, mas, como já era esperado, opta por não exercer para se dedicar em tempo inteiro à sua carreira musical. O estágio obrigatório fica por fazer.

1984 Jun. — Publica o single «Discoteca», que tem no lado B «Tenho Um Escudo à Minha Frente». Embora esteja pronto desde Abril, um litígio entre as discográficas e o Sindicato dos Músicos leva a que só seja editado em Junho.

Ago. — «Trocas e Baldrocas», que Cândida Branca Flor defendera no Festival RTP da Canção de 1982, é escolhida pela Rede Globo para inclusão na banda sonora da novela brasileira «Transas e Caretas», nunca exibida em Portugal. [numa versão das Harmony Cats]

Paião compõe, a pedido expresso do artista, todas as canções interpretadas por Herman José na série humorística «Hermanias» na pele da personagem Serafim Saudade, uma sátira contundente aos cantores ditos «pirosos», que os media se apressam a identificar como um ataque dissimulado a Marco Paulo, um dos poucos cantores ligeiros do catálogo da (agora) EMI-Valentim de Carvalho a nunca ter gravado originais de Carlos Paião. A acusação é agravada pelo facto de uma das canções ser uma versão de «I Just Called to Say I Love You», de Stevie Wonder, que Marco Paulo gravará, numa outra versão a sério, no seu álbum desse ano. Em entrevistas de imprensa, Paião desmente que a personagem seja directamente inspirada por Marco Paulo, apontando que a versão de Serafim Saudade para «I Just Called to Say I Love You» fora pensada e gravada muito antes de Marco Paulo ter anunciado que iria fazer o mesmo.

Nov. — Publica «Cinderela», um novo êxito que atinge quatro tiragens sucessivas.

1985 Fev. — «O Melhor de Carlos Paião» repõe, em LP, grande parte do material até então publicado apenas em single.

Maio — Herman José edita, pela EMI-Valentim de Carvalho, o álbum «O Verdadeiro Artista», assinado por Serafim Saudade. O álbum reúne 12 dos 13 temas que Carlos Paião escrevera para aquela personagem da série televisiva «Hermanias»; um deles é um dueto entre Herman / Serafim e Paião / índio Nelson, «Para as Sogras Que Encontrei na Vida», inspirada pelo êxito de Júlio Iglesias e Willie Nelson «To All the Girls I've Loved Before». A edição do LP fora antecedida pelo single inédito «O Verdadeiro Artista», que, embora não fizesse parte dos temas cantados no programa, é igualmente incluído no disco. Contudo, o álbum (que traz como oferta um pente de plástico igual ao utilizado por Serafim Saudade) não repete o sucesso da série e fica aquém das expectativas comerciais. Nesse mesmo mês, é publicado o novo single de Carlos Paião, «Versos de Amor», cujo lado B é uma nova versão de «Os Namorados», incluída no esquecido LP Algarismos.

Set. — «Lá Longe Senhora» é seleccionada, de entre 2035 originais enviados por 58 países, para participar no Festival Mundial da Canção Popular de Tóquio, no célebre Budokan.

Out. (26-27) — «Lá Longe Senhora» obtém uma boa classificação no Festival da Canção de Tóquio.

Nov. — Edita o single «Arco-íris», cujo lado A é o genérico de um popular concurso infantil da RTP-1, apresentado por Carlos Ribeiro.

1986 Jun. — É editado o single «Bámos Lá Cambada», hino oficial da Selecção Nacional de Futebol para o Campeonato Mundial de Futebol no México, interpretado por Herman José na pele do comentador desportivo José Estebes com a ajuda de várias estrelas da música portuguesa ligadas ao catálogo da EMI-Valentim de Carvalho. A canção fora composta por Carlos Paião, de urgência, num fim-de-semana.

Nov. — Edita o single «Cegonha», em cujo lado B está «Lá Longe Senhora», com a qual Paião se apresentara no Festival de Tóquio.

1987 Abr. — É publicado o álbum de Cândida Branca Flor Cantigas da Nossa Terra, produzido por Carlos Paião. Carlos Paião é convidado por Herman José para compor material para a sua nova série de comédia, «Humor de Perdição», cuja transmissão é iniciada em Novembro mas interrompida bruscamente em inícios de 1988, quando um dos sketches do programa levanta uma polémica ao mais alto nível.

1988 Jul. — Carlos Paião grava nos estúdios da Valentim de Carvalho em Paço d'Arcos o seu segundo álbum, seis anos depois de «Algarismos», com produção de Jorge Quintela e a participação especial de Dina e do Trio Odemira.

Ago. (26) — Carlos Paião morre tragicamente num acidente de viação na Estrada Nacional n.º 1, próximo da Fonte da Amieira, no qual perde igualmente a vida o seu técnico de som Carlos Sousa. O cantor deslocava-se para Leiria, onde iria actuar nessa noite. Das cerca de 500 canções que deixou escritas, apenas perto de 50 foram gravadas. Numa ironia trágica, a morte do cantor ocorre um dia depois do incêndio do Chiado, que destruíra parte substancial do património histórico da EMI-Valentim de Carvalho, editora à qual estivera ligado desde o início da sua carreira.

Set. — «Intervalo», o álbum pronto desde Julho mas cuja edição ficara adiada para Setembro por decisão conjunta do artista e da editora, é publicado pela EMI-Valentim de Carvalho, que decidiu respeitar a data originalmente marcada para o lançamento. Do álbum serão extraídos três singles, «Quando as Nuvens Chorarem» em dueto com Dina, «Só Porque Somos Latinos» e «Mar de Rosas» em dueto com o Trio Odemira, mas os resultados comerciais do LP ficarão, mais uma vez na carreira de Paião, aquém das expectativas, confirmando o progressivo afastamento do grande público da música ligeira, termo que Paião sempre assumira com orgulho para a sua música.

1989 Mar. (7) — A canção concorrente ao Festival RTP da Canção pela EMI-Valentim de Carvalho é «Palavras Cruzadas», um inédito de Carlos Paião escolhido por Mário Martins para a voz de José Alberto Reis, uma nova aposta da companhia no campo da canção ligeira, mas o terna não convence o júri, que lhe dá um modesto 7º lugar entre 12 concorrentes.

1991 Set. — É publicada a compilação «O Melhor de Carlos Paião», um duplo LP/CD simples que vem substituir uma edição anterior com o mesmo título e que consegue finalmente dar postumamente a Carlos Paião o álbum de sucesso que nunca teve em vida. A colectânea reproduz na capa dois textos memoriais datados de 1988, escritos «a quente» pouco depois da morte do cantor — um de Mário Martins, A&R responsável pela carreira de Paião, para acompanhar o dossier de imprensa de «Intervalo», o outro do jornalista João Gobern, publicado na edição do diário A Capital do dia 27 de Agosto de 1988.

1993 Ago. — Por ocasião do quinto aniversário da morte do cantor, a EMI-Valentim de Carvalho publica uma caixa de 3 CD que reúne a discografia integral do artista: os álbuns «Algarismos» e «Intervalo» nunca publicados anteriormente em CD — e ainda um terceiro compacto incluindo todos os lados A e B de singles. Os três álbuns serão posteriormente publicados separadamente em CD.

1996 — A série Caravela EMI edita o CD «Pó de Arroz», com alguns êxitos de Carlos Paião.

Fonte: Enciclopédia da Música Ligeira (Circulo de Leitores, 1998)

1 comentário:

  1. Poderia incluir uma referência ao blog sobre o Carlos Paião onde encontrou os dados da Enciclopédia da Música Ligeira. Não ficava mal e os outros visitantes deste blog poderiam ir consultar outras coisas.

    http://carlos-paiao.blogspot.com/2011/10/dados-biograficos-na-enciclopedia-da.html

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