1969-
Data-29 Março
Local -Teatro Real de Madrid
Apresentador -Laura Valenzuela
Director de Orquestra -Augusto Alguéró
Realizador - Artur Kaps e Ramon Diez
A edição de 69 é sem dúvida uma das edições mais míticas do festival, originado por uma sequência de situações que marcaram a sua história.
Após a vitória espectacular de Massiel no ano transacto, a TVE, decide organizar o maior e mais grandioso festival até á data, superando assim á já formidável edição de 68.Como tal decidiu utilizar o Teatro Real de Madrid para a realização do certame, e um orçamento de 100 milhões de pesetas, uma verdadeira fortuna na época.Foi o primeiro programa a ser televisionado a cores pela televisão espanhola. O festival atingia também a sua maior audiência potencial de sempre sendo emitido pela Eurovisão, Intervisão ,para todos os países de leste, e seria emitida ainda no Chile ,Porto Rico ,e Brasil.
No entanto alguns contratempos marcaram préviamente o certame, como a desistência da Áustria , que se retirava do certame, não só pela discordância com o sistema de votação mas também como protesto pelo facto dessa edição se realizar numa ditadura politica. Por outro lado o Liechtenstein , manifesta a sua intenção de integrar a lista de países participantes, no entanto tal não foi possível devido ao facto do país não ter nenhum canal publico de televisão, curiosamente chegou a ser seleccionado o tema ,"Un beau matin" cantado por Vetti.
Quadro final da votação |
Vários jantares seriam organizados para os participantes. Num desses jantares realizado no restaurante La Fragua, na véspera do certame foi realizada uma votação entre os comentadores estrangeiros, que concederam 1,2 e 3 pontos a cada uma das canções participantes, a classificação seria a seguinte
Reino Unido-23,Monaco20,Suiça e Bélgica 14,Espanha e Noruega 13,Finlandia 10,Lux.e Irlanda9,Italia,França e Jugoslavia 6,Portugal 4,Suéçia,2,Paises Baixos e Alemanha ,1.
Teatro Real de Madrid |
Pela primeira vez seria concebido um cartaz para divulgar o evento, esse cartaz seria criado pelo artista plástico mais importante de Espanha, Salvador Dali. Seria inclusive a imagem do cartaz a primeira a iniciar o certame ás 22h do dia29 de Março. O palco seria elaborado por Bernardo Ballester e por Benet, sendo o elemento mais destacado do mesmo uma estrela de forma surrealista criada pelo escultor valenciano Amadeo Gambino, actualmente essa escultura encontra-se nos Jardins dos Estúdios da TVE em Prado del Rey, para a decoração seriam utilizados 15 mil cravos.
Cartaz Promocional do Festival 1969 |
Após uma intoxicação alimentar e uma súbita perda de voz ,Simone sobe esplendorosa ao palco da Eurovisão dando uma das mais charmosas e poderosas representações de Portugal na Eurovisão. Apesar de tudo a imprensa portuguesa acusou a cantora de ter ficado longe do impacto interpretativo que tivera no São Luís.
Mesmo assim, Simone alardeou a sua grande classe -que ultrapassa as obrigações da artista, e se alarga ao campo da mulher. Dominando fluentemente, Inglês, Francês e Espanhol Simone seria admirada por toda a classe jornalística internacional creditada no evento.
Simone, chegou a Lisboa, à estação de Santa Apolónia, depois de uma cansativa viagem de comboio, que foi parando ao longo da linha desde que passou a fronteira, para as pessoas aclamarem a artista que defendera as cores nacionais em Madrid. A noite do Festival da Eurovisão tinha na véspera parado praticamente todo o país esperançado na vitória. Teatros e cinemas em todo o país fecharam, ou viram as suas sessões vazias de espectadores. O país parara para ver a Desfolhada Portuguesa no Teatro Real de Madrid, pela voz de Simone de Oliveira.
Indignados com a injustiça de um penúltimo lugar e de magros 4 pontos, 20 mil pessoas decidiram rumar a Santa Apolónia numa recepção de desagravo a Simone. Á chegada entre lágrimas, e num profundo cansaço Simone declarou “Fiz o meu melhor e se errei peço desculpa”.
Ary dos Santos mostrou se mordaz e implacável perante a afronta do resultado final e declarou ao “Século Ilustrado”
-Estou muito contente com o que aconteceu. E não podia deixar de o estar. Ora se uma criancinha penteada como a Hermínia Silva, tem mais 10 votos e só 12 anos…ora se uma rapariga que canta pelo nariz(…)ganha uma fatia da Eurovisão, que havia eu de querer senão ,em vez do penúltimo ,o ultimo lugar””…fiz um filho português, honrosamente enjeitado, mas por gosto, …mau grado o desgosto.”
Aliás durante vários dias foram inúmeras as declarações bombásticas.
Nuno Nazaré Fernandes desabafava:
-Deixemo-nos de ilusões, Portugal nunca poderá ganhar um festival destes
Não seria apenas a comunicação social portuguesa a indignar-se com o resultado final da canção portuguesa. Salomé, uma das quatro vencedoras afirmou”..é lamentável que tenha acontecido o que aconteceu com a canção portuguesa” .
Salomé era por outro lado a mais alegre ,das vencedoras, vencera em casa contra tudo e contra todos aqueles que desde a sua selecção lhe previam uma grande derrota. O cepticismo á volta de Salomé avolumara-se a um ponto tal que até o receio de zero pontos na classificação parecia legitimo. Augusto Algueró com o seu poder de orquestração, e Salomé com a sua genica e profissionalismo e longa experiencia de festivais transformaram a derrota em vitória. Outro país com esperanças elevadas era a Jugoslávia, que se apresentava com uma das maiores delegações presentes. Outra vencedora foi Lulu, a mais popular de todas, não só pelo êxito comercial obtido por “Bom Bang a Bang”,mas pelo facto de ter casado com Maurice Gibbs , também ele presente em Madrid.
Mas quais foram as razões para que fosse obvio para todos os portugueses a vitória de Simone em Madrid?
Primeiro o feedback que a comunicação social dava do imenso sucesso que Simone teve durante a semana de ensaios .Ao aparecer no programa Galas de sábado, da TVE, gerara um clima de simpatia pela nossa representante, não só pela qualidade vocal e musical mas também pela força do poema de Ary dos Santos. Num inquérito promovido por um jornal local, aos jornalistas presentes no evento, a vitória seria dada a Portugal. Iniciados os ensaios, o valor da melodia nacional tornou-se uma realidade indiscutível. Jornais como “El Musical” ou “Discóbolo”, davam o favoritismo á canção italiana e seguidamente á canção portuguesa. Para aumentar ainda mais essa certeza, numa boa classificação ou até mesmo a vitória, durante os ensaios gerais na véspera ao ser dada a pontuação, era atribuído a Portugal o 3ºlugar.
Os mais optimistas afirmaram, que afinal o resultado não era tão mau, tínhamos ficado a 14 pontos do primeiro lugar. Não deixa de ser verdade...
As vencedoras |
Capa de revista da época |
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